João França (1908–1996) foi escritor, dramaturgo, poeta e jornalista madeirense, cuja obra atravessa a ficção, o teatro, a poesia e o jornalismo. Destacou-se como jornalista, poeta, romancista, teatrólogo e dramaturgo.
Nasceu na freguesia da Sé, Funchal, em 23 de junho de 1908, sendo o terceiro filho de Belchior França da Câmara e Maria José Pacheco de França.
Revelou desde cedo talento criativo e vocação para o jornalismo. Em criança escrevia pequenos “jornalinhos” manuscritos e, no Liceu Jaime Moniz, aprofundou o gosto pela escrita, criando laços com colegas que viriam a fundar o jornal humorístico Re-nhau-nhau.
Iniciou a carreira jornalística no Funchal, colaborando com diversos jornais e revistas madeirenses, entre eles, destaca-se O Povo, Independente, A Batalha, Diário da Madeira, Comércio do Funchal, Ilha, Re-nhau-nhau, Eco do Funchal .
Entre 1924 e 1930, dedicou-se também ao teatro, onde foi ator, encenador, diretor de cena e autor na Sociedade dos Guerrilhas, alcançando sucesso com peças como Amor sem Deus e Mimi. Chegou ainda a levar o teatro madeirense em digressão aos Açores, sem nunca interromper a sua produção literária e jornalística.
Em 1931, no contexto das lutas pela democracia na Madeira, João França foi perseguido e obrigado a deixar o Funchal. Graças à ajuda do Dr. Elmano Vieira conseguiu escapar à prisão, destino que atingiu outros seus companheiros, como Agapito Camacho e Ivo do Re-nhau-nhau, condenados a nove anos em Caxias.
“(...) livrei-me da PIDE por um bambúrrio da sorte. Devo-o ao meu saudoso amigo e mestre Dr. Elmano Vieira. De um dia para outro meteu-me no Hospício onde permaneci enquanto durou a “limpeza” dos “protestantes” do Funchal. Mesmo depois de ter saído daquele Hospital andei a ser vigiado (...) as mesmas sortes não tiveram os meus amigos Agapito Camacho que era subdiretor do Banco Ultramarino, no Funchal, e o Ivo do Re-nhau-nhau”, que foram presos e condenados a nove anos de prisão em Caxias .”
Aos 30 anos, João França fixou-se em Lisboa, onde prosseguiu a carreira jornalística em jornais como A Noite, Jornal da Tarde e, a partir de 1940, em O Século.
Nos anos 40, o seu trabalho como dramaturgo é reconhecido em Lisboa com a exibição de Zé do Telhado, teatro musicado, do género opereta. Como o próprio diz:
“ O êxito de “O Zé do Telhado”, em 1944, em Lisboa, foi decisivo para o lançamento do meu nome e obrigar-me a conhecer a vida dos bastidores de teatro ligeiro de alto nível. Aí, conheci e privei com gente de renome, como Teresa Gomes, Laura Alvers, Estêvão Amarante. De tais conhecimentos, viria a resultar o meu mais longo trabalho literário: “Romance de uma Corista”.
A partir dos 45 anos, João França iniciou a carreira literária com contos e romances, destacando-se Ribeira Brava (1953), Romance de uma Corista (1956), Histórias Cínicas, e O Drama do Bobo (1964).
A década de 70 revelou-se particularmente criativa, com várias peças, um romance e crónicas, destacando-se A Ilha e o Tempo, Há Sol nas Minhas Mãos, O Emigrante e Um Mundo à Parte, esta última premiada com o Prémio Maria Matos, mas censurada pela PIDE.
Em 1985, João França publicou o romance histórico António e Isabel do Arco da Calheta. Continuou a escrever até ao fim da vida, com obras como Poema Ilhéu (1994) e O Prisioneiro do Ilhéu (1995). Faleceu em Lisboa em 1996, aos 88 anos, deixando um valioso legado literário e jornalístico.